Luiz Gama, o ex-escravo que ajudou a libertar outras centenas

Quatro anos atrás, mais de 130 anos após sua morte, Luiz Gonzaga Pinto da Gama se tornava oficialmente advogado: em solenidade ocorrida na Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) o reconhecia como membro da instituição.

Luiz Gama (1830-1882) nasceu em Salvador. Filho de um descendente de portugueses com uma escrava liberta, acabou vendido aos dez anos como escravo pelo próprio pai, que precisava de dinheiro para pagar dívidas de jogo. A alforria veio aos 17. Como autodidata, ele passou a estudar Direito e, usando as letras da lei, começou a defender escravos.

“Foi o maior advogado da história do Brasil, por conta de sua trajetória, de seu brilhantismo. Era um sujeito que demonstrava capacidade e manejo da tecnicalidade do Direito que são impressionantes até hoje”, elogia o jurista Silvio Luiz de Almeida, presidente do Instituto Luiz Gama e professor de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Conforme relata o livro O advogado dos escravos, biografia escrita pelo jurista Nelson Câmara, Gama bem que tentou se tornar oficialmente advogado. Pleiteou uma vaga na Faculdade do Largo São Francisco, mas, pela sua condição social e étnica, acabou preterido pela elite cafeeira que dominava a instituição, de acordo com o biógrafo. Resignou-se a frequentar a biblioteca e, assim, aprender sozinho as ciências jurídicas.

No prefácio do livro, o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior define o ex-escravo como “o negro mais importante do século 19”. Ele afirma que suas petições podem ser lidas, hoje, “para auferir ânimo na luta contra todas as injustiças que ainda nos assolam”.

Calcula-se que Gama tenha conseguido alforriar, pela via judicial, centenas de escravos. “Dizem que a quantidade de processos em que ele se envolveu foi enorme. Sob a guarda do arquivo do Tribunal de Justiça de São Paulo, encontram-se menos de 500. Mas isso deve ser analisado com cautela, pois muitos podem ter sido perdidos”, diz o historiador e escritor Paulo Rezzutti, estudioso de personalidades brasileiras do século 19.

(Fonte: DW)