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Jovem morto em Paraisópolis comemorava aniversário no baile funk; família contesta versão da polícia sobre pisoteamento

Bruno Gabriel dos Santos, um dos nove mortos durante ação da Polícia Militar em um baile funk em Paraisópolis, na Zona Sul de São Paulo, no domingo (1º), tinha ido até o local para comemorar o aniversário de 22 anos com amigos.

O jovem de Mogi das Cruzes foi enterrado na manhã desta terça-feira (3) numa cerimônia marcada por forte comoção e por pedidos por justiça. A família e amigos contestam a versão da polícia sobre pisoteamento.

Para a Vanine Cristiane Siqueira, irmã de Bruno, não existem sinais no rosto dele que indiquem isso. “Você pode olhar e vai ver que isso aí não é pisoteamento. Pisoteamento, quando você cai com o rosto para cima, o rosto estaria todo arrebentado pela quantidade de gente. E você vê que ele tentou se defender, as mãos todas arrebentadas. Dói muito porque você vê que não foi uma morte natural, e sim tirada.”

Caio Bernardino, de 18 anos, acompanhava Bruno no baile e não viu o momento em que ele morreu, mas questiona se o amigo foi pisoteado. “Como que uma pessoa é pisoteada e não tem marca na roupa?”, disse.

Vanine reclamou que, no reconhecimento do corpo do irmão no IML de São Paulo, pôde apenas ver o rosto do jovem. “Estava na cabeça que tinha que ter calma e ver todos os detalhes do corpo. Eu tentei, juro que tentei.”

A Polícia Técnico-Científica informou, em nota, que “em nenhum momento, após a necropsia, a família é impedida de tocar no corpo. O que se restringe é a entrada de pessoas estranhas ao ambiente, em respeito às questões sanitárias exigidas pela legislação. A Corregedoria das polícias está à disposição para receber denúncias e reclamações em relação à atuação dos agentes públicos. Em relação aos fatos, as investigações seguem pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).”

A PM alegou que o tumulto no baile e as mortes ocorreram depois de uma perseguição a uma dupla em moto, que havia atirado contra um grupo de policiais. Mas moradores disseram que policiais fecharam as saídas do baile e encurralaram os jovens (entenda as duas versões).

Caio disse ainda que os policiais ainda precisam explicar por que atacaram os frequentadores da festa.

A polícia defende uma versão que foi atacada. Agora me diz, se ela foi atacada, por que ela fechou a favela? Por que tinha bomba? Por que eles foram com cassetete? Por que eles bateram em todo mundo? Todo mundo foi pra cima deles? Todo mundo estava em uma moto? O Bruno foi para cima deles? Alguém que morreu tinha passagem?


Para Caio, a tragédia poderia ter sido evitada. “O que aconteceu lá foi uma carnificina. O que aconteceu lá foi premeditado. Se eles quisessem, eles conseguiriam ter dispersado a multidão, eles conseguiriam ter mandado embora”, disse.

A mãe de Bruno, Graças Reis da Silva, também não acredita na versão da polícia. “Assassinaram meu filho, mataram um inocente, como outros inocentes também, crianças ainda. Sem nenhum ter passagem pela polícia, sem nenhum ser marginal. Só por que estavam em uma favela? Favela é digna de todos os nós. Feliz daquele que tem um palácio, mas aquele que tem também sua casinha na favela também é abençoado por Deus. Eles jamais poderiam ter feito isso com essas crianças. São assassinos!”, disse.

(Fonte: G1)