Ex-delegado-geral executado pelo PCC disse em última entrevista que estava abandonado por Tarcísio

Ex-delegado-geral executado pelo PCC disse em última entrevista que estava abandonado por Tarcísio

Na última entrevista que concedeu, o ex-delegado-geral de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, executado a tiros pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) na segunda-feira (15), revelou que vivia sem qualquer segurança ou apoio do Estado. Em conversa gravada há duas semanas para um podcast da CBN e do jornal O Globo, ainda não publicada, Ruy desabafou:

“Eu moro sozinho aqui, eu vivo sozinho na Praia Grande, que é o meio deles. Hoje, eu não tenho estrutura nenhuma, não tenho estrutura nenhuma…”.

As palavras do delegado soam como um prenúncio da tragédia que se confirmaria dias depois. Reconhecido como um dos maiores especialistas do país no combate ao crime organizado, ele sobreviveu a quatro atentados, participou da prisão de Marcola, líder máximo do PCC, e idealizou estratégias que atingiram diretamente o coração da facção. Ainda assim, vivia sem escolta, sem carro blindado e desprotegido no litoral paulista.

Execução anunciada

Na tarde de segunda-feira, Ruy foi alvo de uma emboscada em Praia Grande. Câmeras de segurança registraram o momento em que criminosos o perseguem em um carro, forçando a colisão de sua caminhonete contra um ônibus. Logo em seguida, os assassinos desembarcaram e dispararam mais de 20 vezes contra o ex-delegado-geral.

Para o promotor Lincoln Gakiya, referência no combate ao PCC em São Paulo, a execução já era uma tragédia anunciada. Ele lembra que Ruy estava jurado de morte desde 2006, quando idealizou a transferência das principais lideranças do PCC para a Penitenciária II de Presidente Venceslau.

“O Ruy era o policial do país que mais entendia de PCC. Estava jurado de morte desde 2006. A ideia de concentrar as lideranças foi vista como uma afronta direta pelo crime organizado”, afirmou.

Em 2010, o PCC chegou a articular um plano para matar Ruy na saída do 69º Distrito Policial, na Zona Leste da capital, mas a trama foi descoberta a tempo.

40 anos de combate ao crime

Formado em Direito pela Faculdade de São Bernardo do Campo, Ruy ingressou na Polícia Civil no início dos anos 1980. Atuou no DHPP, no Denarc, no Decap e no Deic, onde esteve à frente de investigações cruciais contra o crime organizado.

Em 2019, foi nomeado delegado-geral da Polícia Civil pelo então governador João Doria (PSDB), cargo que ocupou até 2022. Ao longo de mais de quatro décadas de carreira, acumulou inimigos poderosos no submundo do crime, mas também se consolidou como uma das maiores referências no combate à criminalidade organizada no Brasil.

Falhas na segurança do Estado

A execução do ex-delegado-geral expôs a fragilidade da política de segurança pública do governo Tarcísio de Freitas. Enquanto a gestão reforça operações midiáticas contra alvos pequenos, figuras estratégicas como Ruy, juradas de morte, foram deixadas sem qualquer proteção.

“[Ruy] esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC, e ser executado dessa maneira mostra, infelizmente, o poderio do crime organizado”, analisou Rafael Alcadipani, professor da Fundação Getulio Vargas e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A ausência de escolta, blindagem ou medidas mínimas de segurança para um delegado ameaçado há quase duas décadas revela o contraste entre o discurso oficial e a realidade do enfrentamento às facções criminosas em São Paulo.

Um legado interrompido

Para colegas e estudiosos da segurança, a morte de Ruy não foi apenas a perda de um policial experiente, mas de um dos poucos que conheciam em profundidade o funcionamento do PCC. Sua execução simboliza a ousadia do crime organizado e o abandono de agentes que arriscaram a vida contra a facção.

Ruy Ferraz Fontes morreu como viveu: no front da luta contra o PCC, mas sem a proteção do Estado que deveria garantir sua segurança.

Da Redação com informações do Portal Pragmatísmo Político

 Foto: Prefeitura de Praia Grande e Reprodução

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