“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu nesta segunda-feira (1º) em seu Instagram, Luam Silva, filho do motorista por aplicativo Ornaldo da Silva Viana, morto após o Renault Sandero que dirigia ter sido atingido pelo Porsche Carrera conduzido por Fernando Sastre de Andrade Filho. O condutor do carro de luxo fugiu e se apresentou à polícia só 24 horas depois (leia mais abaixo).
O caso ocorreu na madrugada deste domingo (31) na Avenida Salim Farah Maluf, na Zona Leste de São Paulo, e foi gravado por câmeras de segurança (veja vídeo abaixo). Segundo testemunhas ouvidas pela Polícia Civil, o carro de luxo estava em alta velocidade. O limite de velocidade para a via é de 50 km/h.
Pelas imagens, é possível ver quando Fernando acelera o carro de luxo e bate na traseira do veículo de Orlando, que havia pisado nos freios e desacelerado. O Porsche ergue o Sandero, que é arremessado até a calçada. O veículo do motorista por aplicativo ainda bate num poste de iluminação.
Em sua rede social, o jovem ainda escreveu que fica se “perguntando porque o mundo é tão injusto de levar” seu pai
“O sentimento que eu carrego e de profunda tristeza e angústia”, comentou Luam. “Eu quero que a justiça seja feita.”
Ornaldo foi velado e sepultado na tarde desta segunda no Cemitério Bonsucesso, em Guarulhos, Grande São Paulo.
A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche no momento da batida com o Sandero. O laudo pericial irá informar se o carro de luxo estava com velocidade acima do limite para o trecho.
Ornaldo foi socorrido por uma ambulância do Corpo de Bombeiros. Ele foi levado com parada cardiorrespiratória ao Hospital Municipal do Tatuapé, não resistiu e morreu. O motorista tinha 52 anos e estava sozinho no veículo.
Um amigo de Fernando de 22 anos que, segundo a polícia, também estava no Porsche, foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) até o Hospital São Luiz no Tatuapé. Até a última atualização desta reportagem, ele continuava internado no hospital particular, de acordo com a investigação.
As autoridades não informaram, no entanto, se ele se feriu nem seu estado de saúde. Ele ainda não foi ouvido pela polícia para contar sua versão do que ocorreu.
De acordo com o boletim de ocorrência do caso, a mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, falou para os agentes da Polícia Militar (PM) que atendiam a ocorrência no local que iria levar seu filho para o Hospital São Luiz no Ibirapuera, na Zona Sul da capital, porque ele tinha um “leve ferimento” na boca.
No entanto, quando os policiais militares foram ao hospital particular para ouvir a versão do motorista do Porsche e fazer o teste do bafômetro, para saber se ele dirigia sob efeito de bebida alcóolica, não o encontraram. A mulher que o levou também não estava no local.
Diante disso, a Polícia Civil considerou que Fernando fugiu. Na tarde desta segunda-feira (1), 24 horas depois do crime, ele se apresentou à polícia.
Fernando foi indiciado por homicídio doloso (quando há intenção de matar), lesão corporal e fuga de local de acidente, segundo a Secretaria da Segurança Pública. A polícia também solicitou a prisão temporária dele, mas a Justição não aceitou.
Procurada pelo g1, sua advogada, Carine Acardo Garcia, falou que não iria se pronunciar neste momento. “Peço que aguarde. Vamos nos inteirar do caso nesta data e tão logo haverá manifestação de nossa parte”, disse Carine, por meio de nota. De acordo com ela, seu cliente está em estado de “choque” por causa do acidente.
A Polícia Militar informou ainda que irá apurar se os policiais militares erraram ao permitir que Fernando deixasse o local do acidente com a sua mãe para ir supostamente a um hospital, o que não ocorreu.
“Que liberaram, é fato. Trataram [o motorista do Porsche], inicialmente, como vítima. Vamos analisar se houve alguma falha no procedimento operacional [por parte dos policiais militares]. É preciso analisar caso a caso, mas não é incomum liberar a vítima para ir por conta própria [a um hospital], caso ela tenha condições”, falou ao g1 o coronel Emerson Massera, porta-voz da PM de São Paulo.
O ouvidor Claudio Silva também disse à reportagem que a Ouvidoria da Polícia Civil iria procurar a Corregedoria da Polícia Militar para que ela apurasse se a conduta dos agentes que atenderam a ocorrência entre o Porsche e o Sandero foi correta.
Policiais civis ouvidos pela reportagem disseram que os policiais militares demoraram quase cinco horas para comunicar o acidente com morte na delegacia. Segundo os agentes da Polícia Civil, os PMs deveriam ter feito o teste do bafômetro no local, não procurar o motorista num hospital para fazer isso.
Duas testemunhas da batida entre o Porsche e o Renault, um homem e uma mulher, contaram que estavam dentro de outro veículo, um Hyundai HB20, quando viram o carro de luxo fazer uma ultrapassagem em alta velocidade e perder “o controle, colidindo na traseira do automóvel” onde estava Ornaldo.
Um relógio do motorista do Porsche, encontrado dentro do veículo, foi apreendido pelos policiais.
O Porsche azul 911 Carrera GTS, ano 2023, que era guiado por Fernando, está avaliado em mais de R$ 1 milhão. O veículo é de propriedade da empresa da família do motorista.
O Renault Sandero branco EXP, ano 2017, guiado por Ornaldo, custava em torno de R$ 40 mil. A traseira do automóvel ficou estruída pelo Porsche.
Fonte: G1
Foto: Reprodução/Instagram