Fã do caminhão do lixo, menino de dois anos ganha uniforme de gari em Porto Alegre

O futebol no pátio é interrompido ao primeiro sinal de aproximação do caminhão da coleta de lixo. Olhos arregalados, dedo indicador apontado para o alto, e até alguns gritos com palavras incompreensíveis. É desse jeito, repleto de admiração sincera, que Vítor Hugo de Matos Moraes, dois anos e meio, recebe os trabalhadores da empresa que recolhe os resíduos na rua em que mora, na Vila Costa e Silva, bairro Sarandi, zona norte da Porto Alegre.

– Ele pode estar dormindo, ouvindo música alta, não importa. Sabe o horário e o dia que vai passar. Dá o ronco do caminhão e os latidos dos cachorros, ele já saí correndo com a sacola – explica a mãe, Paula Franciele Silva de Matos, 26 anos.

O carinho entre a criança e os coletores cresceu a ponto de a equipe “contratar” Vítor Hugo, presenteando-o com uma bermuda e uma camiseta idênticas ao uniforme de gari que usam.


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– Quando o uniforme chegou, ele já vestiu, na calçada mesmo. O difícil é tirar depois, porque ele adora, fica o dia todo – conta o pai, André Luiz Flores Moraes, 26 anos, sobre a batalha que é fazer o menino trocar de roupa.

Laranja com faixas reflexivas, a roupa foi costurada pela mãe do motorista Luciano Pesente, o “Bolacha”, a partir de um uniforme que já estava em desuso. Para acompanhar o trabalho, uma caçamba de plástico foi entregue ao pequeno fã na manhã desta terça-feira (12), logo preenchida por pedras que ele recolheu na calçada.

Trabalhando há um ano na BA Meio Ambiente – empresa terceirizada responsável pela coleta domiciliar na Capital –, Samuel Flores, 24 anos, afirma que a recepção com festa é um motivador para encarar os 30 quilômetros de corrida diária ao lado do caminhão.

– O carinho que os pequenos têm com a gente é o que me leva a não desistir. Já me cortei, já cai, mas esse tipo de coisa é o que vale, motiva dia após dia – define, com o “colega de serviço” no colo.

Nas raras ocasiões em que o tempo permite, os garis levam Vítor Hugo em um breve passeio pelas ruas estreitas do bairro humilde. Atônito, o garoto não desgruda o olhar do caminho, apontando e olhando espantado para os cães que “atacam” o veículo. Após descer – visivelmente contrariado –, opera a prensa que otimiza o espaço do lixo na caçamba. Tudo supervisionado pela equipe.

Ainda sem construir frases completas, o garoto balança a cabeça em sinal positivo quando questionado sobre a paixão pelos profissionais. A família demonstra orgulho pela atitude do filho.

– Para mim, é uma emoção. Apesar da pouca idade, ele já sabe reconhecer esse trabalho tão honesto – define o pai.

(Fonte: Gaucha ZH)