Delegado Da Cunha tinha estrutura de filmagem e pagava R$ 14 mil mensais a equipe, mostra investigação

Uma notícia tem repercutido nas redes sociais nesta quarta-feira (29). A corregedoria iniciou uma investigação que mostra que o delegado Carlos Alberto da Cunha, 43 anos, Da Cunha, manteve uma estrutura criada para gravar e divulgar os vídeos na internet. O aparato teve o custo mensal de R$ 14 mil e durou um ano e seis meses, ao passo que o salário do delegado na polícia é de R$ 10.470 líquidos.

A equipe montada pelo delegado Da Cunha não pertence às forças de segurança, mas mesmo assim dirigiam as viaturas oficiais e em algumas ocasiões tomaram depoimentos. Os membros da equipe ostentavam armas nas redes sociais e usavam unidades policiais para realizar trabalhos de edição de vídeo.

Existe um documento em poder da justiça e do Ministério Público de São Paulo que traz informações sobre o indiciamento do delegado Da Cunha sob suspeita de ter cometido crime de peculato. Acusado de se aproveitar da estrutura do estado para atrair “seguidores, visando prestígio pessoal e vantagem econômica em sobreposição aos interesses do Estado”. O delegado Também é suspeito de simular prisões para gravar vídeos e atrair seguidores.

O delegado Da Cunha foi procurado pela Folha de S. Paulo e afirmou que o jornal divulga informações fantasiosas com a intenção de prejudicá-lo. Uma denúncia anônima de um suposto ex-colaborador da equipe fez com que tivesse início a investigação contra o delegado que tem mais de 3,6 milhões de inscritos no YouTube.

O ex-colaborador enviou à corregedoria um documento apontando irregularidades e fotos da atuação de parte da equipe. Nas imagens há o registro de dois funcionários de Da Cunha: Gabriel Yoshi Siqueira Correia, chamado de Gafanhoto, e Cristiano Pereira Novaes, conhecido como Cabelo. Os dois homens citados não são formalmente investigados no inquérito citado. Em fotos tiradas, é possível ver Correia dentro de viaturas, segurando armas (entre elas um fuzil usado também por Da Cunha) e tomando depoimento em uma ocorrência da polícia. Em uma foto, por exemplo, ele está com o pé sobre a mesa da delegacia, enquanto olha o celular.

Já Novaes aparece dirigindo uma viatura oficial da Polícia Civil. Outros agentes foram ouvidos na investigação e confirmaram que Novaes conduzia as viaturas. Disseram também que os três funcionários saiam para as gravações de vídeos nas viaturas oficiais. Os policiais que foram ouvidos disseram que as irregularidades apontadas podem configurar usurpação de função pública e violação de sigilo funcional. Além disso, o fato do delegado usar viaturas oficiais para fins particulares pode configurar o crime de peculato.

Os dois funcionários citados foram ouvidos pela corregedoria e confirmaram a ligação com o delegado Da Cunha. Contratado pelo delegado Da Cunha no início de 2019, Gabriel Correia acompanhava as operações e as filmava por meio do celular. Disse ainda que fazia as gravações com o celular do delegado e trabalhava na edição de vídeo na unidade policial, recebendo a quantia de R$ 1.000 pelo serviço até meados de 2020. Já Cristiano Novaes, começou a trabalhar com o delegado Da Cunha em 2018, nas edições de vídeo para o canal do YouTube. Disse que dirigiu uma viatura oficial uma vez.

Novaes afirmou que ainda trabalha com o delegado e ganha R$ 2.000. “O declarante passou a exercer as funções de assistente pessoal do delegado Da Cunha, sendo seu motorista particular, bem como ainda realizando edições de vídeos e gravações feitas pela equipe do delegado, composta por James e Gabriel”, afirma trecho do depoimento.

O cineasta James Jay Mass Salinas foi citado por Novaes, como o responsável por prestar serviços ao delegado Da Cunha por R$ 1.500 ao dia. Disse que inicialmente ele fazia uma gravação por mês, mas com o passar do tempo chegou a gravar quatro vezes no mês ao valor de R$ 6.000 mensais. Deixou a equipe em maio deste ano.

Alexandre Moreno fazia parte da equipe do delegado Da Cunha e foi ouvido pela corregedoria. Trabalhava na administração das redes sociais do delegado desde o início de 2020. Ajuda com suporte na divulgação de conteúdos no Instagram e Facebook,“que eram gravados, produzidos e editados pelo cineasta James”. Afirmou que trabalha diretamente com o delegado e tem um salário de R$ 6.000. Alexandre Moreno disse à Folha de S. Paulo que não trabalha mais com o delegado.

Segundo o portal da Transparência, no período de janeiro de 2020 a julho de 2021, o delegado teve um salário líquido mensal de R$ 10.470,61, incluído todos os benefícios, como 13º e adicional de férias. O delegado Da Cunha está afastado do cargo desde julho deste ano após o início de investigações da polícia. Logo em seguida pediu afastamento por dois anos sem salário e filiou-se ao MDB. Tem mostrado a intensão de ser candidato a governador de São Paulo. A polícia agora busca saber a origem dos recursos para pagamento dessa equipe já que o seu salário seria insuficiente. Da Cunha ainda gasta cerca de R$ 9.000 com aluguel e condomínio do apartamento em que reside.

Da redação do Acontece na Bahia